Biografia originalmente publicada no site Dying Days
Por Fabrício Boppré
O embrião do Pearl Jam pode ser encontrado em outras bandas de Seattle, na época em que a cidade
ainda não era o grande foco das atenções no mundo do rock’n’roll, como
ficou sendo durante a primeira metade da década de 90. Podemos começar
dizendo que o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament eram
amigos e formaram uma banda de hard-rock chamada de Green River ao lado
do guitarrista Steve Turner e o vocalista Mark Arm, mais ou menos na
metade da décade de 80. Chegaram a gravar e lançar um disco, chamado
"Rehad Doll", além de um EP, pelo selo local Sub Pop. Mas em 1988, a
banda resolve se separar, sendo que Arm e Turner formariam logo depois o
Mudhoney, uma das bandas primordiais do grunge. Jeff e Stone continuam
juntos e, juntamente com o baterista Jeff Turner e o vocalista Andrew
Wood, formam uma nova banda, chamada Mother Love Bone. Assinam um
contrato com a Geffen Records e lançam em 1989 o EP chamado "Shine" e,
em 1990, um álbum chamado "Apple". A banda começa a fazer a sucesso nos
EUA, quando, logo depois do lançamento de "Apple", em 16 de março de
1990, morre o vocalista Andrew Wood, vítima de uma overdose de heroína.
Depois
disso, Stone e Jeff se separam, mas continuam a compor e escrever
músicas. Depois de algum tempo, voltam a se juntar com o propósito de
formar mais uma banda. A eles se junta o guitarrista Mike McCready
(ex-Shadow), mas faltava ainda um vocalista e um baterista. Por
intermédio do amigo e baterista Jack Irons (ex-Red Hot Chilli Peppers),
eles conhecem Eddie Vedder, que estava naquele momento trabalhando em
uma indústria de petróleo em San Diego (que fica no estado da
California, sendo que Eddie nasceu no estado de Illinois), mas que
costumava cantar e tocar
com alguns amigos nos bares da cidade, em uma banda chamada Bad Radio.
Vedder recebe uma fita demo do trio de Seattle (apenas com músicas
instrumentais) e gosta do som que ouve. Ele resolve escrever as letras
que faltam à essas músicas (reza a lenda que ele foi surfar um dia, e,
ao sair do mar, estava com as três letras prontas na cabeça – são elas:
"Once", "Alive" e "Footsteps", e possuem ligação entre si), e ele mesmo
grava sua performance por cima dos instrumentos
na fita e a envia de volta para Seattle. O trio fica impressionado com o
que ouve e resolve convidar Eddie para ser o vocal da futura nova
banda. Assim, ele vai para Seattle e grava com a banda durante três
semanas, sendo que ao final dessas, já estavam se apresentando para o
público local.
Ao mesmo tempo que isso acontecia, Chris
Cornell, vocalista do Soundgarden e ex-companheiro de quarto do falecido
vocalista do Mother Love Bone, resolve formar um banda para fazer um
disco em homenagem ao antigo companheiro. Ele contacta Jeff Ament e
Stone Gossard, que aceitam fazer parte desse projeto. Estes, por sua
vez, levam Mike McCready e Eddie Vedder, e juntamente com o baterista
Matt Cameron, também do Soundgarden, formam o Temple of the Dog. Gravam
um excelente álbum auto-intitulado, que saiu pela A&M Records em
1991. Depois do fim dessa banda (que desde o início era apenas um
projeto temporário para homenagear o carismático Andrew Wood), Jeff,
Stone, Mike e Eddie decidem formar definitivamente uma nova banda, e
para isso ganham o reforço do baterista Dave Krusen.
Assim, nasce o Pearl Jam.
A princípio, o nome da banda seria Mookie Blaylock, que era o nome de
um jogador de basquete. Mas eles tiverem que mudá-lo por problemas
burocráticos, e Vedder sugere o nome Pearl Jam,
que seria uma homengam à uma geléia com poderes alucinógenos que sua
avó (chamada Pearl) fazia. Depois de mais algum tempo gravando material
para o álbum debut, eles assinam um contrato com a Epic Records,
lançando o resultado dessas gravações em agosto de 1991.
Esse
resultado é o disco "Ten" (número da camisa de Blaylock no New Jersey
Nets), certamente um dos melhores álbuns do grunge, e do rock em geral
nos últimos tempos. Possui canções belas e inesquecíveis como "Alive" (o
grande sucesso radiofônico do disco, e que levou o Pearl Jam
a ser conhecido nos quatro cantos do mundo), "Oceans", "Black" e
"Release", outras pesadas e raivosas típicas do grunge, como "Once" e
"Why Go", além de outras excelentes por si sós, como "Jeremy" (outro
grande sucesso radiofônico, e que possui uma letra auto-biográfica de
Vedder, narrando problemas em sua juventude), "Porch" e "Even Flow". Com
a excessiva excecução desse disco nas rádios e MTVs, a banda vai
ficando bastante conhecida (logo Vedder começa a sentir o peso desse
sucesso) e o álbum chega assim ao Top Ten americano. A banda ganha o
prêmio de Video of the Year da MTV, com o clip de "Jeremy", além de
vários outros prêmios.
O destaque final fica por conta das emotivas letras escritas por
Vedder, responsáveis em parte pela sintonia imediata do público com a
banda. Ele costuma dizer que suas letras são para serem interpretadas
por cada um como bem entender, podendo até gerar interpretações
distintas dependendo do ouvinte.
Assim, a banda parte para
uma grande turnê de divulgação ao redor do mundo, mas sem o baterista
Dave Krusen, que saiu no final das gravações desse primeiro disco por
problemas pessoais. Matt Chamberlain tocou com a banda nessa turnê. O Pearl Jam
também fica conhecido por suas apresentações, cheias de energia e com o
carisma de Vedder transbordando em cada uma delas, com seu
comportamento no palco e os constantes stage-dives em meio ao público.
Em
1992, a banda participa do filme "Singles", do diretor americano
Cameron Crowe. Nesse filme, é feito um retrato da geração grunge de
Seattle, e várias bandas da cidade aparecem tocando, como por exemplo, o
Alice in Chains. Alguns dos membros do Pearl Jam fazem parte da banda de Matt Dillon, chamada Citizen Dick, sendo que Vedder é o baterista.
Mini-acústico
para a MTV A banda participa ainda de um mini-acústico para a MTV, onde
eles tocam algumas canções do primeiro disco, além de uma música que
saiu na trilha sonora do filme "Singles" (chamada "State of Love and
Trust", e que podia perfeitamente ter saído no "Ten", de tão boa que é) e
uma música cover de Neil Young, chamada "Rockin’ in the Free World"
(que a banda também tocou em vários shows normais).
Nessa
apresentação, Vedder protagoniza um show particular ao final, quando ele
sobe no banquinho em que estava sentado e com uma caneta escreve vários
slogans em seu corpo, em particular, alguns a favor de um instituição
ambiental chamada Earth First (ele possui uma tatuagem em sua perna com o
logotipo dessa instituição, da qual ele é sócio). O ano de 1992 também
marcou a aproximação entre o Nirvana e Pearl Jam,
uma vez que, no passado, Kurt Cobain havia hostilizado a banda de Eddie
Vedder. Depois de conhecer Vedder pessoalmente, Kurt pediu desculpas em
público pelo o que havia dito sobre eles. "I’m not going to do that
anymore. It hurts Eddie and he’s a good guy", disse Kurt em uma ocasião.
A agenda do grupo em 1992 continua intensa: Vedder ainda acha tempo de
participar das gravações do álbum "Recipe for Hate", do Bad Religion,
banda do seu amigo Greg Graffin. No quesito shows, a banda abre para
vários artistas conhecidos, como Red Hot Chilli Peppers, U2
e Neil Young (com quem fariam uma parceria anos mais tarde), além de
serem o headliner da segunda edição do festival alternativo
Lollapalooza, organizado anualmente por Perry Farrell (ex-Jane’s
Addiction e Porno for Pyros).
Depois desse exaustivo ano, em que o Pearl Jam
consolidou de vez o status de ser a grande banda de rock do momento, o
grupo volta ao estúdio para gravar o seu segundo disco. Em outubro de
1993 sai então "Vs", outro álbum excepcional. A principio, ele iria se
chamar "5 Against 1", mas na última hora a banda resolveu chamá-lo
simplesmente de "Vs" (aliás, esse título não está escrito em nenhum
lugar do CD, à exemplo do que fez o Led Zeppelin
em seu quarto disco). No line-up da banda, nova troca de baterista:
Matt Chamberlain saiu para ir tocar no Saturday Night Live Band, e no
seu lugar entra Dave Abbruzzese. A banda mostra definitivamente que pode
ir além do que faz a maioria das bandas grunges, que nessa época, já
estavam fazendo muito sucesso. Possui excelentes canções como "Animal",
"Daughter", "Rearviewmirror", "WMA", "Leash" e "Indifference". Cada
canção transborda de feeling e garra, mostrando a banda bem entrosada e
com composições excepcionais. O disco logo entra no Top Ten americano,
tendo atingido a incrível marca de 350.000 cópias vendidas apenas no
primeiro dia de seu lançamento. Mas nem tudo são flores: Vedder
experimenta cada vez mais o que é ser um "rock star", sendo que isso o
incomoda. Mas a banda não diminui o ritmo intenso. Ainda em 1993, Eddie
participa de um show no Rock and Roll Hall of Fame ao lado dos
ex-membros do The Doors,
Ray Manzarek, John Densmore e Rob Krieger. Lá eles cantam três músicas
do inesquecível grupo de Los Angeles: "Roadhouse Blues", "Break on
Through" e "Light my Fire". Para fechar o ano, a banda aparece em uma
apresentação para o MTV Music Video Awards, com Neil Young no palco para
a última música, "Rockin’ in the Free World".
Nesse período, a
banda começa a se mostrar insatisfeita com a política comercial da
Ticketmaster, a empresa americana que controla a venda e distribuição de
ingresssos para os shows feitos nesse país. O principal motivo era o
preço desses ingressos, que a banda sempre lutou para manter baixo, ao
contrário do que efetivamente acontecia. Em maio, eles acionam
oficialmente a justiça americana para uma investigação, acusando-os de
monopólio, uma vez que não haviam outras empresas para assim promover
uma competição, e, consequentemente, abaixar os preços e forçar a
melhora dos serviços. Assim, eles rompem com a empresa e passam a
promover e organizar os próprios shows, obtendo apoio de vários outros
artistas, como o REM, Aerosmith
e Neil Young. Isso dificulta bastante a vida da banda, pois a
Ticketmaster facilitava bastante esse processo (a despeito do grande
lucro que obtinham no final) e eles acabam entrando em um período de
baixa, que culmina com algumas brigas
internas, ao mesmo tempo em que o Departamente de Justiça Americano
desiste de investigar a Ticketmaster. Decepcionados com o mercado
artístico e a indústria cultural vigente nos EUA, a banda adota uma
postura anti-comercial: param de produzir clips, não tocam mais para
grandes audiências, não aparecem em programas de TV, não dão entrevistas
à revistas, não usam mais as caixinhas de CDs normais (que aumentam o
preço final do produto) para comercializar seus trabalhos e, claro, não
usam mais a Ticketmaster para promover seus shows. Aparentemente, a
idéia da banda é não se expor demais (virando apenas um "produto" para a
MTV e rádios) e fugir dos "fãs de momento", aqueles que só os conhecem
pela excessiva exposição da banda pelos meios de comunicação comuns,
meios esses que apenas visam o mesmo objetivo da Ticketmaster: lucro
comercial.
Ainda em 1994, ocorre um outro fato que não só afeta o Pearl Jam,
como também grande parte do cenário musical mundial: Kurt Cobain se
suicida no começo de abril. A banda resolve cancelar alguns shows
marcados para o verão mostrando-se bastante abalada e consternada com o
fato, e, em uma aparição no programa Saturday Night Live, Vedder usa uma
camiseta com um K desenhado. Nessa apresentaçao, ele canta um trecho de
uma música de Neil Young, chamada "Hey Hey My My (Out of the Blues)".
Kurt havia usado uma frase dessa música em sua carta de despedida ("It’s
better to burn out than to fade away").
Apesar de todos esses
problemas, e de Vedder se mostrar cada vez mais incomodado com o seu
status de "rock star", a banda entra em estúdio novamente, e em dezembro
de 1994, lança "Vitalogy". O álbum saiu primeiramente em uma edição
especial de vinil, passando a ser comercializado também em CD e K7
apenas duas semanas depois. Esse disco mostra um Pearl Jam
ainda criativo e contagiante, com Vedder escrevendo ótimas letras e
criando excelentes melodias, e os instrumentistas bem afiados e
mostrando muita garra (além de uma boa dose de experimentalismos, como
na estranhíssima última faixa). Algumas músicas que se destacam são
"Last Exit", "Spin the Black Circle" (uma das músicas com maior
sonoridade punk do Pearl Jam
– o título é uma referência ao fato de "Vitalogy" ter sido também
lançado em vinil), "Whipping" (composta originalmente para sair no disco
"Vs"), "Better Man" (que Vedder compôs nos tempos de Bad Radio), a
belíssima "Corduroy" e a balada "Immortality" (que a banda insiste em
afirmar que não é uma homenagem a Kurt Cobain). Apesar disso, o disco
não vende tão bem quanto os anteriores, e a tensão aumenta. Ele não
chega a ser um fracasso, claro, mas a significativa diminuição de cópias
vendidas é diretamente causada pelo biocote que a banda sofre por parte
da imprensa em geral, devido à postura anti-comercial adotada por eles.
Mesmo assim, o número de vendas mostra que a banda possuia um grande
número de fãs fiéis, e não apenas aqueles fãs típicos da MTV, que
compram qualquer coisa que a rede de TV promove como sendo "a grande
sensação". Dave Abbruzzese é despedido (por motivos até hoje
desconhecidos) e Jack Irons (amigo da banda, e ex-Red Hot Chilli
Peppers) assume as baquetas no final das gravações do disco, ajudando a
amenizar a situação entre os membros originais. Para fechar o ano,
Vedder resolve então se desligar rapidamente do Pearl Jam e excursiona com seu projeto paralelo chamado Hovercraft.
Já em 1995, a banda reune-se novamente e lança um novo trabalho, mas na verdade não é um álbum oficialmente do Pearl Jam.
Neil Young convidou a banda para tocar em seu novo disco, chamado
"Mirrorball", um dos mais pesados do lendário cantor, e com bastante
sonoridade grunge. Vedder faz backing vocals em algumas músicas, e por
motivos burocráticos (devido ao fato das gravadoras dos artistas serem
diferentes), o nome Pearl Jam não sai escrito no disco, sendo que apenas os nomes dos membros da banda são citados no encarte. O Pearl Jam
então aproveita algumas gravações e composições dessa experiência, e
lança um single chamado "Merkinball", que contém duas ótimas músicas nas
quais é bastante nítida a influência que Neil Young causou na banda
nesse período, incluindo participação do próprio na gravação. Na mesma
época da união com Neil Young, nasce o Mad Season, um projeto paralelo
levado a cabo por Mike McCready, Layne Stanley (Alice in Chains), Barret
Martin (Screaming Trees) e Baker Saunders (Lamont Cranston). O primeiro
disco da banda se chama "Above", e foi lançado em março desse mesmo
ano.
Na metade de 1995, a situação entre os membros da banda volta
a ficar delicada, após um show em San Francisco, no qual Eddie Vedder
deixa o palco após a sétima música alegando estar debilitado fisicamente
por causa de algo que comera no hotel. Neil Young, que estava com a
banda se preparando para divulgar "Mirror Ball", gentilmente termina o
show no lugar de Eddie, mas sem evitar que a banda fique incomodada com
Vedder.Eles decidem se separar por algum tempo, para descansarem e
tentarem temporariamente levar uma vida normal, cancelando assim os
próximos shows agendados.
Mas isso não ocorre. Os membros da banda aparentemente não conseguiram ficar longe da música, e do Pearl Jam
em si. Eles voltam a se reunir uma semana após a separação, e depois de
fazerem as pazes e traçar novos objetivos, voltam a turnê que fora
brevemente interrompida.
Em 1996, voltam ao estúdio e em agosto do
mesmo ano, lançam "No Code", que pode ser considerado um marco na
carreira da banda. É o disco mais eclético e variado do quinteto, no que
diz respeito as influências, sonoridades e estilos. Pode ser
considerado por alguns como também o mais comercial, mas isso não faz
com que ele seja ruim, muito pelo contrário. Possui excelentes músicas
como "In My Tree" (com uma batida tribal empolgante, parecida com a
música "WMA" do disco anterior, e que já mostrava como a banda podia
variar em suas músicas), "Hail, Hail", "Red Mosquito", "Lukin"
(homenagem à Mark Arm, do Mudhoney), a magnífica "Mankind" e a bela e
surpreendente "Around the Bend". A banda continua com sua política de
não divulgar o álbum comercialmente pelos meios normais, como lançando
vídeos pela MTV (a banda só os fez para o disco "Ten"), dando
entrevistas e se apresentando em programas de TV. A imprensa em geral,
naturalmente, continua a boicotá-los, mas a banda não se comove e
continua a fazer aquilo que acredita, e, principlamente, para aqueles
que acreditam. Enquanto a imprensa detona o quinteto (e, principalmente
Eddie Vedder), vários artistas os defendem, entre eles Michael Stipe, do
REM, e Courtney Love, do Hole, dando assim mais credibilidade à banda, e
fazendo com que os fiéis e verdadeiros fãs do Pearl Jam continuem os prestigiando.
Obviamente,
"No Code" não foi um retumbante sucesso comercial, mas mesmo assim
vendeu bem, e a banda parte para um nova turnê de quase dois anos,
sempre com bons públicos (a despeito de não estar sendo bancada pela
Ticketmaster). É importante dizer também que o grupo perdeu um pequena
parcela de fãs antigos, que gostavam mais da época grunge do quinteto,
com suas músicas raivosas e pesadas, mas mesmo assim, o Pearl Jam continua sendo uma das melhores bandas do mundo, fato comprovado em cada uma das excelentes faixas desse disco.
Depois da extensa turnê de divulgação, o Pearl Jam
volta ao estúdio e passa o resto de 1997 trabalhando em novo material. O
resultado é lançado em fevereiro de 1998, e é chamado de "Yield". Boas
críticas e vendagens relativamente boas também marcam esse lançamento,
mas claro, sem a euforia que marcou os dois primeiros discos da banda,
na época em que eles eram as vítimas principais dos tubarões chamados
MTV e rádio. Esse disco é bem parecido com "No Code": mostra a banda
mais madura e competente em suas composições e arranjos intrumentais,
com músicas mais voltadas ao rock’n’roll normal, livrando-se
definitivamente do estigma de banda grunge. São vários os destaques do
disco, como a contagiante "Brain of J", a bela "Faithfull", "Given to
Fly" (que tem uma levada muito parecida com "Going to California" do Led
Zeppelin) e a pérola "MFC", que tem um trabalho de guitarras
inesquecível. Nesse disco, a banda volta atrás em uma das atitudes da
postura anti-comercial levada a cabo por eles, aquela mais afetou os fãs
(e por isso mesmo eles acabaram cedendo): a não produção de
vídeo-clips. Eles fazem um excelente vídeo para a faixa "Do the
Evolution", que é todo feito em desenho animado, produzidos pelo criador
do personagem de revistas em quadrinhos e cinema Spawn. O clip é
transmitido exaustivamente pela MTV ao redor do mundo. Depois do
lançamento do álbum, Jack Irons sai da banda (dizem eles ser uma saída
temporária) e Matt Cameron (que havia ficado sem banda depois do fim do
Soundgarden) assume as baquetas. Ainda em 1998, dois novos lançamentos
da banda: o vídeo "Single Video Theory", onde a banda aparece tocando
músicas do último álbum, e o primeiro disco ao vivo do grupo: "Live on
Two Legs" (o título é uma referência a um disco do Queen). Nesse álbum, a
banda aparece tocando músicas de todos os seus cinco discos, e fecha o
álbum com mais um cover de Neil Young, a excelente "Fuckin’ Up".
O ano de 1999 começou com o Pearl Jam
participando de um disco em benefício das vítimas da guerra de Kosovo,
chamado "No Boundaries" (no Brasil, "Sem Fronteiras"). O grupo aparece
com as músicas "Last Kiss" e "Soldier of Love". A primeira é uma bela e
simples balada, que tocou exaustivamente nas rádios do Brasil (e que
virou um single da banda).
Ainda em 1999, o Pearl Jam
volta a trabalhar na gravação de um novo disco, o sexto de estúdio. O
resultado é lançado em maio de 2000, e se chama "Binaural". Produzido
por Tchad Blake e mixado por Brendan O 'Brian, "Binaural" pode ser
comparado com "Yield" e "No Code", por mostrar a banda mais contida, sem
o peso e agressividade de antigamente, mas ainda com muita criatividade
e competência, sendo bastante visível a maturidade das composições e
melodias criadas pelo quinteto. Destaque para as músicas "God's Dice",
"Nothing As It Seems" (primeiro single do álbum), "Light Years", "Soon
Forget" (apenas Eddie Vedder na voz e ukelele) e "Grievance". A produção
de "Binaural" é muito boa, realçando em algumas músicas uma atmosfera
meio depressiva e pesada, como em "Nothing As It Seems" e "Sleight of
Hand". As composições foram feitas por Stone Gossard, Eddie Vedder e
Jeff Ament, ao contrário de antigamente, em que Vedder era praticamente o
único compositor da banda. Vale destacar que o grupo continua a
distribuir seus álbuns em caixinhas especiais (isso acontece desde o
terceiro disco, "Vitalogy"), para evitar que o trabalho chegue mais caro
as lojas devido à tradicional caixinha de plástico que é produzida por
uma única empresa nos EUA. Outra novidade é o lançamento de diversos
"bootlegs oficiais": são discos contendo gravações de show da banda ao
redor do mundo, por preços mais acessíveis.
Em 2002, a banda volta
ao estúdio para gravar seu sétimo disco, ao lado do produtor de Adam
Kasper. Em outubro sai o primeiro single, para a música "I am Mine", e
no mês seguinte é lançado "Riot Act". É um trabalho bastante maduro e
coeso, que agrada mais aos fãs e críticos do que "Binaural". A banda
volta a apresentar também um vídeo, para a canção "I am Mine" (o último
tinha sido para "Do the Evolution" do disco "Yield"), além de anunciar
que pretende novamente lançar os "bootlegs oficiais", a exemplo da turnê
do disco anterior.
Em 2003, os lançamentos da banda foram a
coletânea de b-sides "Lost Dogs" e o DVD "Pearl Jam at the Garden", que
traz uma apresentação memorável do quinteto em Nova York (sexteto, se
contarmos com o tecladista Boom Gaspar), com participações especiais de
Ben Harper, Steve Diggle e Tony Barber. Até o momento o grupo já havia
lançado dois vídeos: "Touring Band", que traz a banda em ação durante a
turnê de "Binaural", além do já citado "Video Single Theory", que traz
os bastidores das gravações do disco "Yield". Outro fato importante de
2003 foi o fim do contrato com a Epic, que lançou todos os discos do
grupo. Até o momento, a banda ainda não divulgou quem será seu novo
parceiro.